Os bons, os maus e os vilões
Nem só os campos verdejantes e floridos influenciam o ar que respiramos. Há todo um lado «negro», um «outro» lado, no mundo que temos. Na verdade, todos nós, chegados a determinada altura da vida (uns na juventude, outros na velhice), apercebemo-nos da monotonia das personagens melodiosas sempre em harmonia com o que rege a nossa ideologia dominante. O «outro» lado é sempre mais atraente. Negá-lo é mentir.
Por exemplo, dizer que os líderes comunistas não devem ser estudados por quem não seja comunista ou admirador do profundo humanismo de Stalin equivale a dizer que Hitler não merece (mais) uma biografia que não seja um manifesto ou uma homenagem escondida. É uma concepção adormecida da História. Vejamos, Franco Nogueira seguiu o conselho, inadvertidamente, por respeito e conhecimento (e admiração) - e, embora a sua extensa obra sobre Salazar seja admirável, não deixa de ser uma boa literatura nocturna para adormecer sonhando com os mais nostálgicos valores da pátria, um pouco na linha de uma vetusta personalidade que, todos os dias, desda há uns largos anos, adormece com um canto ou alguns versos d'Os Lusíadas.
Portanto, também o «outro lado» precisa dos seus símbolos. Para «eles» e, consequentemente, para nós. Símbolos, no entanto, que fascinam mesmo os mais veementes opositores das suas «obras de vida». A doença de Hitler, a (referida em correspondência) batotice de Napoleão a jogar às cartas em Santa Helena, ou o sapato de Kruchtchev na mesa das Nações Unidas fazem vibrar até o mais preguiçoso dos liberais.
Até mesmo os «heróis» (na História como na ficção) têm adversários, rivais, némesis, equivalentes no outro lado da trincheira. Wellington tinha Napoleão, Aron tinha Sartre, Lord Mountbatten tinha Heydrich (que se diz ter apagado com uma pedra o nome judaico de sua mãe, Sarah, do túmulo maternal) ou Skorzeny (oficial do III Reich com 1.98m, cuja grande cicatriz na cara chegou-se a dizer ter sido o próprio a fazer para ganhar respeito entre os subordinados). Em 1940, dois homens de grande porte (esquecendo, por momentos, o inesquecível Hugh Dowding) olhavam-se através do Canal: Churchill e Göring. Enfim, Rousseau era a antítese do próprio homem.
Aliás, como já se referiu neste blogue, os heróis não são perfeitos, (im)perfeição essa que dependerá, até, dos tempos que correm. Pois, tal como Satanás ou os «vilões» da História, os «heróis» têm uma parte burlesca que é comum a ambos. Afinal, até Zeus, grandioso símbolo da potência sexual masculina, acabou por não resistir aos encantos homoeróticos de Ganimedes, raptando-o enquanto maltratava Hera, a sua própria mulher.
Por exemplo, dizer que os líderes comunistas não devem ser estudados por quem não seja comunista ou admirador do profundo humanismo de Stalin equivale a dizer que Hitler não merece (mais) uma biografia que não seja um manifesto ou uma homenagem escondida. É uma concepção adormecida da História. Vejamos, Franco Nogueira seguiu o conselho, inadvertidamente, por respeito e conhecimento (e admiração) - e, embora a sua extensa obra sobre Salazar seja admirável, não deixa de ser uma boa literatura nocturna para adormecer sonhando com os mais nostálgicos valores da pátria, um pouco na linha de uma vetusta personalidade que, todos os dias, desda há uns largos anos, adormece com um canto ou alguns versos d'Os Lusíadas.
Portanto, também o «outro lado» precisa dos seus símbolos. Para «eles» e, consequentemente, para nós. Símbolos, no entanto, que fascinam mesmo os mais veementes opositores das suas «obras de vida». A doença de Hitler, a (referida em correspondência) batotice de Napoleão a jogar às cartas em Santa Helena, ou o sapato de Kruchtchev na mesa das Nações Unidas fazem vibrar até o mais preguiçoso dos liberais.
Até mesmo os «heróis» (na História como na ficção) têm adversários, rivais, némesis, equivalentes no outro lado da trincheira. Wellington tinha Napoleão, Aron tinha Sartre, Lord Mountbatten tinha Heydrich (que se diz ter apagado com uma pedra o nome judaico de sua mãe, Sarah, do túmulo maternal) ou Skorzeny (oficial do III Reich com 1.98m, cuja grande cicatriz na cara chegou-se a dizer ter sido o próprio a fazer para ganhar respeito entre os subordinados). Em 1940, dois homens de grande porte (esquecendo, por momentos, o inesquecível Hugh Dowding) olhavam-se através do Canal: Churchill e Göring. Enfim, Rousseau era a antítese do próprio homem.
Aliás, como já se referiu neste blogue, os heróis não são perfeitos, (im)perfeição essa que dependerá, até, dos tempos que correm. Pois, tal como Satanás ou os «vilões» da História, os «heróis» têm uma parte burlesca que é comum a ambos. Afinal, até Zeus, grandioso símbolo da potência sexual masculina, acabou por não resistir aos encantos homoeróticos de Ganimedes, raptando-o enquanto maltratava Hera, a sua própria mulher.
O «gigante» Otto Skorzeny com Adolf Hitler
[João Silva]
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