Stanislaw, o patife
Stanislaw era mulherengo. Jacob gostava de mulheres. Sobretudo, Jacob, boa alma, gostava da sua própria mulher. Já Stanislaw, era tão patife quanto mulherengo - e, como tal, via na mulher de Jacob a alternativa escatológica da sua vida sem sentido.
Jacob não gostava de Stanislaw e evitava-o. Stanislaw não gostava de Jacob e, por isso mesmo, perseguia-o no emprego, sorrindo. Ao ver Jacob com a mulher, Stanislaw olhou para o amigo. Os seus olhos pareciam dizer: «Será minha».
Certo dia, à chegada ao emprego, o escritório estava cabisbaixo. Alguns dos mais novos davam risadas envergonhadas e segredavam. Stanislaw indagou. «A mulher deixou-o», disseram. E, a um canto, lá estava Jacob, o traído - uma mulher traída transmite sempre uma imagem de uma fúria imensa prestes a emergir, mas um homem traído é um homem sem roupa, nu e envergonhado perante os outros, de mãos na cara. Por esta razão, Stanislaw teve pena do amigo. Resolveu confortá-lo. No entanto, a natureza do homem não tem surpresas. Chegando-se ao pé de Jacob, Stanislaw só conseguiu dizer: «Não te preocupes, não consegui nada dela». Jacob despertou da apatia. O punho cortou o ar. No chão, Stanislaw sangrava imenso. Arrastando-se até ao corredor, só a sua cabeça despenteada, agora imperfeita, surgiu da porta, perto do chão: «Viram?? Eu bem vos disse que ele não era boa pessoa!».
[João Silva]
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