sexta-feira, setembro 03, 2004

Patton (III)



O Norte de África, no Outono de 1942, era um cenário de guerra fatalista para as incautas e impreparadas forças Aliadas, em especial as britânicas e norte-americanas. Erwin Rommel, o mais temido oficial e general do III Reich, dispunha as suas escassas divisões blindadas pelos locais de batalhas escolhidos sempre por ele. Rommel obtinha uma superioridade táctica muito antes de se iniciarem quaisquer confrontos. Todos (ou quase todos) os ambiciosos oficiais Aliados sentiam um misto de admiração e ódio pelo general alemão, o que, curiosamente, lhe parecia dar uma aura mística, que exarcebava as suas qualidades. Depois do desaire do desfiladeiro de Kasserine em Fevereiro de 1943, do qual as forças americanas, numa completa dessincronização e desentendimento, saíram claramente derrotadas, Eisenhower atendeu aos pedidos de alguns generais estacionados em África e nomeou um homem de confiança que, além de manter uma longa amizade com Dwight D. Eisenhower, era uma referência para qualquer oficial Aliado. George S. Patton chegou, assim, a África com uma missão salvífica. Para derrotar o melhor general de divisões blindadas alemão, era preciso o seu equivalente ao serviço dos EUA. Era-o, certamente.

Patton havia recuperado a vantagem Aliada em Marrocos logo em finais de 1942, quando comandou as forças norte-americanas que chegavam ao Norte de África, mas seria depois de Kasserine que sentiria o peso do seu dever de derrotar as forças organizadas por Rommel na Tunísia. Conseguiu fazê-lo com uma estratégia de emboscada, num esforço conjunto e «sincronizado» entre tanques, artilharia pesada, morteiros e infantaria. A organização das tácticas de Patton suplantaram a estratégia de força e pressing psicológico de Erwin Rommel. Patton, com a vitória sobre Rommel no Norte de África era, então, um homem exaltado, cujo estatuto de prima donna (assim o admitia) apenas era «abalado» pelas exigências do irritante (Patton também admitia isto) Montgomery, que insistia na primazia das forças britânicas no sucesso no Norte de África. Começava aí o permanente atrito entre os dois oficiais aliados. Patton nunca viria a gostar dele. Nem na invasão da Sicília essa «relação» foi esquecida.

Patton comandou e esteve encarregado das preparações do 7º Exército dos Estados Unidos para a invasão da Sicília, que levou a cabo a 10 de Julho, num operação conjunta entre americanos e britânicos (o 8º Exército Britânico, liderado por Montgomery). 38 dias depois, a Sicília era libertada. No entanto, ficaram marcados dois episódios que viriam a determinar muitas decisões futuras e a explicar outras tantas do General Patton. O primeiro, referente à teimosia de Patton em chegar primeiro à capital da Sicília, como libertador, ao contrário da decisão do Alto Comando Aliado de permitir essa função (ou «estatuto», na óptica dos dois Generais) a Montgomery. após completar o primeiro assalto, Patton recusou defender o flanco de Montgomery e, em vez disso, avançou mais rapidamente mais a Oeste da ilha e, chegando primeiro a Messina, mostrou o seu carácter a Montgomery e a Eisenhower. Esse carácter ficou ainda mais demarcado com o «segundo episódio», no qual Patton, depois da vitória na Sicília, visitou um hospital militar e, encontrando lá um soldado a ser tratado, num estado de choque provocado pela guerra, o esbofeteou acusando-o de extrema cobardia e de faltar às suas responsabilidades, enquanto americano e enquanto soldado, para com os outros combatentes. Fora duramente reprimido pelo Alto Comando Aliado e, em especial, pelo Congresso e por «Ike» Eisenhower. Eisenhower «obrigou-o a fazer um pedido público de desculpas para todo o exército que se encontrava sob as suas ordens. Esse pedido de desculpa seria outra importante viragem na sua vida.

«An Army is a team; lives, sleeps, eats, fights as a team. This individual heroic stuff is a lot of crap.»
-Gen. George S. Patton

[João Silva]