domingo, setembro 05, 2004

O Génio “Louco” Solitário

É curioso. Desde pequeno que oiço que a linha entre o génio e o louco é muito ténue.
Encontro-me agora só, em frente ao computador, e penso nestas palavras. Porque será o génio “louco”?
Se procurarmos ao longo da história isto demonstra-se aparentemente como verdade. Kant era “maluco”, um génio, mas totalmente “louco”. Newton, Nietzsche, Einstein, Descartes, Van Gogh, Hobbes, Salvador Dali, Napoleão, Da Vinci, e muitíssimos outros, todos eles eram, em diferentes graus, “loucos”.
Não pretendo fazer aqui um diagnóstico psicológico a todas estas e outras personalidades, o que eu aqui defino como “louco” reflecte-se apenas, e só, em desvios do comportamento dito como “normal”, ou melhor, de norma. No fundo todos temos uma ponta de neuróticos, mas os ditos génios, na generalidade, apresentavam-na como muito mais assumida que os outros não tão geniais.

Ora, a que se deverá isso? Já aqui explicitei que racionalmente, o ser humano está condenado à solidão. E os génios, aqueles que racionalmente, se colocam acima de todos os outros apresentam igualmente uma solidão mais acentuada e daí uma “loucura” mais acentuada.
Apresenta-se-me assim que, um génio no verdadeiro acerto da palavra, é por norma mais neurótico que os restantes por se encontrar mais solitário que todos os outros na sua vida. Por não conseguir encontrar um semelhante na sua própria genialidade, ele é forçado a refugiar-se em si próprio.

Pois bem, mas houve génios à parte de Kant e Newton que encontraram as suas caras metades. Que se casaram e viveram felizes, tanto quanto possível. Será?
Não consigo esquecer algo que um meu professor, uma pessoa genial, uma vez disse numa aula de História da Psicologia, ou História das Ideias, como ele preferiria. Quando confrontado com uma pergunta sobre as relações estabelecidas entre as pessoas ele responde tão simplesmente isto: Para mim, as pessoas casam-se para não se sentirem tão sós. A verdade é que o rir de um filme é diferente quando se está só do que quando se está acompanhado.
Obviamente que eu não acredito nas caras metades, isso é uma treta. Mas, sendo verdade que as pessoas se casam para afastar a solidão, talvez muitas das pessoas geniais que existiram tentaram apenas colmatar um vazio existente neles, e à sua volta. Até que ponto conseguiam através do matrimónio eliminar a solidão? A meu ver, muito reduzidamente o faziam. Há relatos de que estes génios passavam grandes partes dos seus dias sós, a pensar, a trabalhar, a existirem no seu meio. Dedicando uma pequena parte do seu tempo com os seus companheiros.
A verdade é que muito provavelmente eles considerariam a companhia dos outros como uma perda de tempo, incapazes de comunicar com eles na total extensão da suas capacidades. A verdade seria, que os outros os não compreendiam. Eles estavam sós, como todos os outros. Mas, talvez, um pouco mais que os outros, presos na sua genialidade, eram “loucos” solitários.

Assim, e em suma, poderemos entender que os grandes génios que existiram, aqueles que, por um meio ou outro, se elevaram acima dos restantes homens, deviam a sua “loucura”, ou seja, comportamento fora do normal, à sua extrema solidão enquanto indivíduos sem par. Talvez.

[Tiago Baltazar]