domingo, setembro 05, 2004

Requiem por uma amiga

«Não deveríamos mesmo assim ter chamado carpideiras? Mulheres que choram por dinheiro e a quem se pode pagar para que toda a noite chorem, quando se faz silêncio. Voltem os costumes antigos! Não temos costumes bastantes. Tudo passa e se esvai em palavras. Por isso tens de vir, morta, e aqui, comigo, repor os prantos. Ouves o meu lamento?
Gostaria de lançar a minha voz como um pano sobre os restos da tua morte, e lançá-la até se fazer em farrapos, e tudo o que digo deveria andar andrajoso nesta voz e tiritar de frio; se lamentar bastasse. Porém agora acuso: não aquele que te arrancou a ti (não consigo descobri-lo, é como todos os outros) mas a todos nele acuso: o homem.»


Rainer Maria Rilke, As Elegias de Duíno

[João Silva]