sábado, setembro 04, 2004

A Solidão como Certeza

Qual a única certeza que temos? A humanidade, desde que tomou as rédeas do seu destino que procura as verdades do mundo, as certezas. Estas segundo Popper, nunca poderão ser atingidas. Segundo este, a pouco e pouco aproximarmo-nos-emos da verdade, mas nunca a atingiremos. Em certo modo concordo. A verdade última é impossível de ser atingida, quer pela filosofia, quer pela matemática. Mas podemos aceder às nossas verdades, às conclusões que retiramos do mundo, da experiência, e nessas teremos que nos basear para conduzir a nossa vida.

Descartes, através do método introspectivo procurou atingir a verdade última. Abstraiu-se de tudo o que o rodeava e cingiu-se a focar-se em si mesmo. A verdade a que ele chegou fora a do cogito ergo sum, penso logo existo, mas Descartes, encontrou uma outra verdade que nunca chegou a enumerar. Ele, ao se abstrair de tudo o que lhe era externo, ao duvidar de tudo, encontrou-se a ele próprio nele mesmo, e essa é uma das grandes verdades da vida. Estamos sós. De tudo o que existe, a única certeza que podemos ter é a de que nós existimos, independentemente de tudo o resto, aliás, o resto pode até não existir. Mas nós, enquanto seres solitários existimos.
Assim, enquanto pensamos sabemos que existimos e podemos ter a certeza disso, por corolário podemos verificar que enquanto indivíduos nunca nos poderemos juntar a qualquer outro. Neste ponto não duvido do mundo material, mas o que tento expor é que nós vivemos enclausurados dentro de nós mesmos, sem nunca nos conseguirmos ligar a ninguém de forma verdadeira. A companhia que usufruirmos dos nossos amigos, companheiros, conjugues, é apenas uma ilusão, uma derradeira forma de nos sentirmos menos sós. No entanto, é apenas isso, uma ilusão.
Não nego que não necessitemos dessa ilusão, nem proponho que seremos melhores enquanto eremitas, nada disso. O ser humano é um ser social por natureza, social por irracionalidade, porque racionalmente estaremos sempre sós. E tal como não posso duvidar que existo enquanto penso, também não posso duvidar que eu sou um ser solitário enquanto penso.

[Tiago Baltazar]