Europa
Numa entrevista concedida ao "Público" e à Rádio Renascença, Rui Vilar, presidente da Fundação Gulbenkian, a certa altura, afirma: "A Europa tem de salvaguardar uma relação transatlântica indispensável para a sua segurança. Não vejo a Europa como uma potência militar - não vejo que os parlamentos votem orçamentos de defesa elevados e a economia tenha recursos. Mas deve afirmar-se como referência de valores contra uma deriva unilateralista e ter um papel acrescido como interlocutor em determinados teatros de conflitos. Temo-nos apoucado em conflitos como o do Médio Oriente. E devemos recuperar a visão de Barcelona, a que não esquece a fronteira sul, a que fica do outro lado do Mediterrâneo."
Rui Vilar, nesta entrevista, reconhece que a União Europeia tem muitas fragilidades . Só por isso demonstra alguma sensatez. Afinal de contas, poucos são os eurocratas que o reconhecem. Porém, o presidente da Fundação Gulbenkian, mesmo sabendo que a UE não passa de um anão político, acredita que esta última tem todas as condições para "afirmar-se como referência de valores contra uma deriva unilateralista e ter um papel acrescido como interlocutor em determinados teatros de conflitos." A afirmação ganha contornos surrealistas, se se tiver em conta que Rui Vilar não vê a Europa como potência militar.
Este tipo de bacoquices, que grassam por todo o continente europeu, já não chocam ninguém. Pelo contrário, são cada vez mais levadas a sério, principalmente pelo mundo eurocrata, que prima pelo multilateralismo. Basta ler as seguintes afirmações de Mário Monti, comissário europeu demissionário, para perceber a essência desse multilateralismo: "A única alternativa política para os Estados que não ratificarem a Constituição Europeia será deixar a União para não condenar os outros à impotência." Por mim, tudo bem. Mas, pergunto, onde está a potência? E, já agora, quem é que pediu uma Constituição Europeia?
[Paulo Ferreira]
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