Vazio
Para muitas pessoas, o casamento não é apenas um sonho, é o principal (leia-se único) objectivo de vida. Ora, na minha modesta opinião, essas pessoas, que se julgam capazes de atingir a felicidade eterna, são doentes. Nem mais.
A vida, seja lá o que for, não se deveria resumir apenas à felicidade proporcionada por uma telenovela feliz, ou por um “happy end”. Afinal de contas, o conceito de felicidade não passa de um bom eufemismo que o Homem arranjou para esconder o vazio em que vive enterrado, a dor, o sofrimento e, até, a sua própria ignorância. Viver no sofrimento, na dor e na ignorância é o nosso destino. É para isso que nós, seres infelizes!, fomos concebidos. Para sermos infelizes, na solidão. Mesmo que essa solidão seja atenuada pela companhia de um nosso semelhante, é essa a verdadeira essência do Homem.
A felicidade, o amor e, se se desejar mais um termo piroso, a ternura, são conceitos que ajudam a reconfortar a existência do Homem. Mas, não existem; não passam de uma grande ilusão; não o conseguem definir correctamente. Falar de felicidade ou de amor é o mesmo que dizer a alguém que, para se perceber Hobbes, é necessário ler Rousseau. É o mesmo que gritar-se ao mundo “sou feliz porque sou ignorante”! Aliás, é esta a verdadeira definição de felicidade, a ignorância. A ignorância que vive feliz por ser ignorante, por não conhecer, por não querer conhecer.
[Paulo Ferreira]
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