Justiça mediática
Se tivesse que escolher o pior momento da semana televisiva, escolheria, sem dúvida alguma, aquele em que Carlos Cruz, homem acusado de pederastia, é injuriado pela multidão faminta de sangue.
Independentemente da inocência do homem, o que se passou à saída do tribunal é vergonhoso. É vergonhoso para nós, seres humanos, que conseguimos, de manhã, pôr em causa a integridade intelectual do presidente americano e, à noite, agir como gorilas.
Contudo, desta vez a culpa e a estupidez não morrem nas garras ensanguentadas dos populares que ansiavam pelo final da primeira, das muitas, sessões do julgamento real. A culpa, desta vez, é dos jornais, das televisões que, muito tempo antes do início do julgamento, já tinham julgado os réus, como se tivessem o dom de fazer justiça através da televisão e de manchetes de jornal. O povo, esse, por muito ignorante que seja, não tem culpa, já que é essa mesma ignorância que o lava com água benta depois de cometer as maiores barbaridades.
[Paulo Ferreira]
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