Incorrecções de direita
Já tive oportunidade de assinalar a minha simpatia pela "nova direita" que se vai ancorando na blogosfera ou em projectos como a Atlântico (cfr., por exemplo, aqui, aqui e aqui). Creio que a refundação da direita (ou de boa parte dela) e o abandono de concepções salazarentas, paroquianas e ultramontanas são aspectos essenciais para acabar com a paz podre do eixo PSD-PP e com unanimismos paralisantes em áreas em que o debate é saudável e até essencial. Pessoalmente, gostaria que vingasse em Portugal uma direita liberal não só em termos económicos mas também em termos sociais (sim, sou ingénuo...) e espero que estas novas vozes contribuam - pelo menos - para uma reflexão sobre o tema.
Mas não posso deixar de concordar com Miguel Vale de Almeida quando este critica essa "nova direita" por adoptar continuamente o discurso do "contra": Que se verifica, então, nesta tripla cambalhota linguística da "direita" - agora rebelde («inconformista»), contra-cultural e anti-hipócrita (meus deuses, dir-se-ia que saíram todos do Maio de 68. Oops: saíram mesmo...)? O velho truque da inversão, que se consegue graças à polissemia das palavras. Mas é um truque, e desonesto enquanto tal.
Não concordo com 90% dos presupostos do post mas também a mim me faz confusão, confesso, o discurso "revolucionário" adoptado por muitos bloggers e colunistas. Nesta última hora visitei três blogs que mencionavam a expressão "politicamente incorrecto" na sua frase de apresentação e recordei-me do slogan da revista Nova Cidadania: "Cinco anos politicamente incorrectos". Como disse há dois meses Vicente Jorge Silva, nada há mais parecido com o velho discurso esquerdista do "politicamente correcto" do que o discurso de uma nova direita que, nomeadamente em Portugal, exibe o festivo estandarte do "politicamente incorrecto". A arrogância, a sobranceria, a pose de infalibilidade inquisitorial são rigorosamente as mesmas. Mas não é fortuito que grande parte dos actuais intelectuais de direita "politicamente incorrectos" tenham sido nados e criados nas águas "politicamente correctas" dos seus verdes anos de militância esquerdista (designadamente estalinista e maoísta).
Hoje em dia é politicamente correcto ser politicamente incorrecto, como me susurrou alguém.
[Bernardo Sousa de Macedo]
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