Melancolias I
[para a M.]
Fazemos projectos, preparamos reuniões, delineamos estatutos, agendamos «encontros informais», temos «almoços de trabalho», entramos na sacanice que criticámos nas tertúlias do mês anterior. Puxamos dos galões que não temos, fazemos o que era impensável há uns tempos – sala, cerimónia e graxa. Passamos a acreditar na equivalência dos termos «diplomacia» e «hipocrisia» – e cinicamente não nos importamos. O que escrevemos segue na íntegra a cartilha do texto-que-diz-tudo-mas-não-diz-nada (com o meu texto preto, eu nunca me comprometo…), aquela que passámos os dias, de forma quase farisaica, ortodoxa, a detectar nas sebentas, nas monografias e nos artigos dos nossos professores. Dizem-nos que é a vida, e nós não engolimos. Isso só acontece quando chega a nossa vez de o dizer aos outros. Ou seja, no segundo a seguir.
Fazemos projectos, preparamos reuniões, delineamos estatutos, agendamos «encontros informais», temos «almoços de trabalho», entramos na sacanice que criticámos nas tertúlias do mês anterior. Puxamos dos galões que não temos, fazemos o que era impensável há uns tempos – sala, cerimónia e graxa. Passamos a acreditar na equivalência dos termos «diplomacia» e «hipocrisia» – e cinicamente não nos importamos. O que escrevemos segue na íntegra a cartilha do texto-que-diz-tudo-mas-não-diz-nada (com o meu texto preto, eu nunca me comprometo…), aquela que passámos os dias, de forma quase farisaica, ortodoxa, a detectar nas sebentas, nas monografias e nos artigos dos nossos professores. Dizem-nos que é a vida, e nós não engolimos. Isso só acontece quando chega a nossa vez de o dizer aos outros. Ou seja, no segundo a seguir.
[Bernardo Sousa de Macedo]
<< Home