quinta-feira, agosto 19, 2004

De Jospin a Soares (nota)

Há anos atrás, em tempos em que eu próprio ainda não existia, as ideias tinham um papel fundamental na política e, até, nas vidas das pessoas. Estávamos, então, nos tempos do "poder jovem", nos tempos em que milhares e milhares de pessoas abdicavam das suas próprias vidas para incendiar carros, para fechar escolas ou, até, para se manifestarem contra os Estados Unidos. Nesses tempos, a racionalidade não abundava. Porém, a classe política transbordava de ideias concretas. Até o povo demonstrava vontade de aprender alguma coisa, nem que fosse os ensinamentos de Mao Tsé-Tung. Eram, de facto, tempos em que o ser humano daria a vida pelos seus ideais.
Com o passar dos tempos, com o aumento da segurança e com a melhoria geral das condições de vida, as ideias foram sendo, progressivamente, enfiadas na gaveta, e a classe política passou a dar mais importância à beleza das palavras e às poses.

Como ontem disse Maria Filomena Mónica, no seu artigo semanal:" Um dia destes, prevejo, ainda teremos de nos defrontar com a seguinte questão: gosto mais do Manuel Alegre ou do Cavaco Silva? Nesse momento, já nada restará para além da cor dos olhos (mais bonitos os de Alegre) e da forma do corpo (mais perfeito o de Cavaco Silva). Apenas através do tom da voz, do sentido de humor, do brilho no olhar (Marcelo Rebelo de Sousa ganhará sempre) escolheremos quem nos irá governar. Também а política chegou à era dos "reality shows". "

[Paulo Rodrigues]