Imberbe
Dez da manhã. Ouço, quase agonizado, a voz de um imberbe. Sinto-me alienado pelo espaço e pelo tempo. De repente, vejo aquele rapaz , que tanto me irritava,
caminhar na minha direcção. Senta-se no meu território, sem o meu consentimento, e pergunta: “Gostas de ler a ‘Visão’?”. Num bocejo, coloco-lhe a mão no ombro e respondo: “ Rapaz, ainda és novo...”.O imberbe, enfurecido, desata aos berros, numa fútil tentativa de me chamar à razão. Com o passar dos segundos, o silêncio vai regressando àquele café de esquina. Porém, o rapaz, que continuava descontente, levanta-se e exclama: “És arrogante. Temos a mesma idade e, para além disso, nem sabes que o doutor Boaventura e o doutor Soares escrevem para a revista. Caso não saibas, aprende-se muito com eles!”. E eu respondo :Rapaz, é por isso que ainda és novo...”.
[Paulo Ferreira]
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