Soneto de amor
Que rosas fugitivas foste ali!
Requeriam-te os tapetes, e vieste...
Se me dói hoje o bem que me fizeste,
É justo, porque muito te devi.
Em que seda de afagos me envolvi
Quando entraste, nas tardes que apar’ceste!
Como fui de percal quando me deste
Tua boca a beijar, que remordi!...
Pensei que fosse o meu o teu cansaço,
Que seria entre nós um longo abraço
O tédio que, tão esbelta, te curvava...
E fugiste...Que importa? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste,
Onde a minha saudade a Cor se trava?...
Mário de Sá-Carneiro, Poemas
[Paulo Ferreira]
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