terça-feira, novembro 30, 2004

Comédia

Enquanto representávamos os últimos actos da nossa farsa, reparaste que ninguém em redor prestava atenção, senão eu. Apenas eu ouvia o piano que acompanhava a tua voz seca e sem vida. Quando saíste de cena e as luzes se acenderam, o piano continuou num lânguido compadecimento da minha existência - por fim consciente de si mesma.
Ainda com as lágrimas falsas no rosto, procurei-te na realidade. Procurei-te nas fronteiras de nós os dois, que nunca se moveram. Encontrei-te no êxtase da banalidade, no meio dos sátiros, de onde me lembraste (rindo) que o único trágico era eu.

[João Silva]