O esventrado
José, um rapaz trabalhador mas pouco dotado de pensamento, vivia, como o próprio dizia, em função do grande amor da sua vida, Madalena. Pedreiro aplicado, com pretensões de subir na vida, José esfalfava-se a trabalhar. Contudo, quando surgia algum tempo livre, o pobre homem enfiava o capacete na capacete e corria velozmente para os braços da sua amada. Ela, por seu lado, esperava-o sempre, com a mesma altivez, própria de quem se sente um ser superior.
Mesmo sabendo que não merecia aquele tipo de tratamento por parte da namorada, José tentava compreendê-la, dando-lhe todo o tipo de atenções que, até, ele próprio nunca recebera de ninguém.
Com o passar dos dias e dos meses, José foi começando a perceber que algo estava mal na sua relação amorosa com Madalena. Mas, a sua vida rotineira continuava a mesma. Do trabalho à cama da amada, tudo era perfeito. Não havia motivo algum para que se preocupasse com o futuro. O casamento viria com o dinheiro e, a partir daí, a felicidade dos dois pombinhos eternizar-se-ia.
Porém, por ironia do destino, certa noite, ao sair do trabalho, vê a ninfeta que lhe preenchia todos os espaços da sua vida sair de mão dada com um homem, mais velho que o pai dele. E, desgraça das desgraças!, vê o que não queria ver, um beijo. As faces de Madalena conspurcadas com a saliva de um velho. Uma saia levantada numa esquina.
Na tarde seguinte, José não vai trabalhar. A imagem da noite anterior impedia-o de fazer fosse o que fosse. Todavia, passados uns dias, decide voltar para os braços da ninfeta e pedir-lhe perdão por tantos dias de ausência. E assim acaba a história de José, o eterno marido.
[Paulo Ferreira]
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