O medo de existir
Acabo de ler o mais recente livro do filósofo José Gil ( Portugal, hoje - O medo de existir) .E, devo confessar, gostei bastante de o ler, mesmo que não tenha concordado com muitas das ideias expostas pelo dito autor. De qualquer forma é um livro a ler por todos aqueles que têm consciência de que as coisas não vão bem no país do "deixa andar".
O livro anda sempre à volta do tema da "não-inscrição". A "não-incrição", basicamente, traduz o fixismo nacional, criado pelas gerações que nunca conseguiram encontrar a melhor forma de ultrapassar as barreiras, sociais e políticas, impostas pelo salazarismo. Esse fixismo pode ser encontrado mesmo ao nível da imprensa, onde existe uma meia dúzia de autores que interpreta o papel da inquisição, através das suas verdades positivistas e imutáveis. A existência dessa única meia dúzia de cronistas impede que o raciocínio do resto da sociedade se desenvolva. Ou melhor, impede a existência de um espaço público, já que a comunicação é sempre feita em círculo fechado. Como afirma José Gil, « Os lugares, tempos, dispositivos mediáticos e pessoas formam um pequeno sistema estático que trabalha afanosamente para a sua manutenção.»
«O medo é uma estratégia para nada inscrever. Constitui-se, antes de mais, como medo de inscrever, quer dizer, de existir, de afrontar as forças do mundo desencadeando as suas próprias forças de vida. Medo de agir, de tomar decisões diferentes da norma vigente, medo de amar, de criar, de viver. Medo de arriscar. A prudência é a lei do bom senso português.
O medo que reinava no antigo regime passou a um outro registo, sem desertar dos corpos. Mesmo disseminado, circula agora horizontalmente.»
[Paulo Ferreira]
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