Stuck on you
Gosto de objectividade. Sobretudo na política. A prova da literacia está na forma como se ultrapassa, rapidamente, a fase do «querer complicar o que é simples» com «ismos» e pérolas adverbiais. E, mais ainda, na forma como se «diz muito em pouco tempo». Algo que Portas conseguiu, ontem, no debate para as legislativas. Algo que nem Santana nem Sócrates algum dia conseguirão.
Outro aspecto a que dou muita importância nas campanhas políticas (para cargos públicos de importância e «confiança») é a forma como se dirige aos eleitores, expondo, com inteligência, uma ideia, ou atacando um determinado «eleitorado», aquele que é mais útil aliciar no momento. Portas não disse nada, mas consegue convencer o mais atento dos analistas políticos com a sua retórica. Santana não diz nada, mas faz chorar as mães-de-família portuguesas e faz-nos acreditar que se afundará com o barco. Louçã não diz nada, ponto final. Mas Sócrates é um fenómeno isolado: consegue transformar a ideia num imenso vazio a perder de vista, dando-nos um enorme sentimento de fim-do-Mundo, transmite-nos uma desconfiança inigualável quanto às suas capacidades.
José Sócrates consegue demorar uma hora, com cara séria, a alinhar frases (mais ou menos) memorizadas do Partido sem saber o que diz. Consegue não dizer nada. Consegue trazer a política tão para baixo que tem como mote o «choque tecnológico» (alguém nos devia explicar a todos, antes de dia 20, o que é isso). Consegue, como fez ontem, dizer «e a terceira ideia que quero transmitir é...» (sic) sem antes ter dito nada, ou antes, ter falado dos primos e do tempo. Resumindo, consegue fazer governo sem ter nada. Não há que procurar outras expressões: José Sócrates, o «quase-primeiro-ministro», não tem nada para nos dizer.
[João Silva]
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