sábado, julho 31, 2004

Chimney and Water Tower


Charles Demuth (1883–1935)

Black Swan

De repente, tudo fica escuro. Só se avistam as figuras de uma menina ingénua, de um monge e de um dipsomníaco. Ao passo que o dipsomaníaco tem o coração da menina nas mãos, o monge imita cobardemente os passos de Cyrano de Bergerac. Infelizmente, passado algum tempo , percebo que sou aquele monge envergonhado, medonho, que ensina poesia ao bêbedo. Viro as costas e afundo-me na escuridão. O monge está perdido, como sempre.

[Paulo Rodrigues]

Simpatias

Procuramos diariamente algo que nos diga que a espécie humana partilha sentimentos bonitos entre si. Queremos acreditar que nos amamos uns aos outros. Pensamos, até, que pertencemos a uma espécie culta e civilizada. Muitos da nossa espécie humana, repudiam a guerra, a dor alheia, o sofrimento do vizinho e, por conseguinte, repudiam todos aqueles que não se deixam absorver pela ignorância da unanimidade. George W. Bush e, principalmente, o partido a que pertence, o Partido Republicano, são as principais vítimas desta espécie que não compreende que pertence ao violento mundo animal.

É por não gostar do actual presidente norte-americano que a claque de John Kerry não para de aumentar. Porém, Kerry não é melhor que Bush. Tudo o que se espera dele é que faça a paz, que fale com os terroristas, que mantenha os impostos baixos e que seja bonzinho para a Europa. Ideias, essas, não existem. Só populismo. Só mentiras. E o mundo anseia por viver nessa mentira heróica que é John Kerry, o combatente pacifista.

[Paulo Rodrigues]

sexta-feira, julho 30, 2004

Aprender a olhar para trás

Já dizia Alain “Toda a verdade se torna falsa a partir do momento em que nos contentamos com ela” (de memória) e portanto, o homem nunca se contentou com nada. Procurou sempre mais. Inicialmente, o homem teve a religião que lhe acalentava o espírito e lhe proporcionava algumas verdades, depois teve a filosofia, a seguir veio a astronomia e agora temos a ciência. Sempre andámos para a frente e poucas vezes olhamos para trás, com medo que o passado nos mordesse no rabo. É esse o motivo de a história se repetir a ela própria. Até perdermos o medo de olhar para trás ela repetir-se-á sempre novamente.

[Tiago Baltazar]

A verdadeira beleza

A beleza, como dizia Nelson Rodrigues, pode ser uma verdadeira profissão. Aprender nas melhores escolas e crescer com os "clássicos" no bolso é importante. Claro que é, mas não para todos.  A mulher bonita vale, só pela sua beleza, um emprego no teatro, no cinema e na televisão.  Afinal de contas, não precisamos de "Júlias Pinheiros" a filosofar regularmente sobre o nascimento do tremoço, nem precisamos que sejam as apresentadoras a ensinar-nos aquilo que não aprendemos nas escolas. Precisamos é de figuras como Isabel Figueira e Ana Cristina Oliveira. Essas é que nos remetem para o imaginário fantástico do romance, não as apresentadoras supostamente cultas que, por sinal, são bem feias. O que importa se as ninfetas não souberem quem foi Platão ou Camilo Castelo Branco?Nada. Por isso, deixem-nas trabalhar!



[Paulo Rodrigues]

quinta-feira, julho 29, 2004

O Eterno Marasmo

Vivemos num eterno marasmo. Procuro, inutilmente, uma conversa delicada no café, na televisão, onde seja. Onde falássemos de religião, de filosofia, de história, política, literatura, cinema, musica ou pintura.
Não encontro o que procuro. Encontro sim, quem fale senão de futebol, das tropelias dos políticos (os safados!), enfim, das corriqueirices que nos atormentam diariamente. Dos assuntos de casa-trabalho, trabalho-casa.
Actualmente, parece que saber se existe vida inteligente em Portugal é como perguntar se existe água em Marte. Todos crêem que sim, mas ninguém sabe exactamente onde.

Eu tenho a felicidade de já ter encontrado alguma água da qual beber, mas é pouco. Se excluir os mortos qualquer dia estou desidratado.

[Tiago Baltazar]

Silêncio

Ao procurar a minha mesa do costume, num canto, encontrei-a já ocupada por um casal que parecia jantar em silêncio. Tive vontade de os incomodar e pedir para saírem. Quis-me parecer que estaria a fazer um favor a um dos dois, ou a ambos. Que não lhes faria diferença. No entanto, não o fiz.

[João Silva]

O grande incendiário


quarta-feira, julho 28, 2004

Jogo de emoções

A campanha de John Kerry para as presidenciais americanas constitui uma surpresa constante para quem esperava ver um homem sensato, discreto e inteligente a discursar diariamente sobre os grandes problemas americanos e mundiais.  Contudo,  a campanha de John Kerry é tudo menos inteligente e sensata.O que se tem visto na campanha de Kerry, é um complexo jogo de emoções, um populismo, alimentado  pela, já habitual, expressão: "Temos de salvar a América desta repressão!". É por esse ansiado renascimento do esplendor americano que Kerry tira fotos com fato de surfista. É pela pátria que Hillary Clinton deseja outro futuro para as crianças americanas.

[Paulo Rodrigues]

Mais um...

A arte tem muitas facetas. A música é uma delas. Mas nem todos os ouvidos escolhem. Para alguns, a música é mais do que som. Como tal, entra um novo membro, Gonçalo Simões, que abrilhantará este espaço com o seu conhecimento musical, e não só.

Uma não apresentação

Conversemos. De que conversaremos nós? De tudo um pouco. De tudo aquilo que nos aprouver. Que discutamos e que riamos perante as nossas diferenças e semelhanças.
Que pode um homem esperar senão isso, um pouco de companhia.

[Tiago Baltazar]

La Jeune Martyre (The Young Martyr)


Paul Delaroche

Fragmento

O silêncio torna-se pueril perante a impotência de um olhar.

[Paulo Rodrigues]

terça-feira, julho 27, 2004

Alargamento

O blog é um vício, mas não o suficiente para ocupar todos os ínfimos momentos do dia. Faltava, talvez, algo mais. Por isso, temos uma nova contribuição para o blog: Tiago Baltazar. Brevemente.

[Paulo Rodrigues e João Silva]


segunda-feira, julho 26, 2004

Oportunismo

            Francisco Sá-Carneiro teve uma grande importância no período pós-marcellista?  Claro que teve. Francisco Sá-Carneiro é importante ainda hoje? Claro que é. Ainda hoje as pessoas imaginam um PPD/PSD que seja a imagem de Sá-Carneiro e, mais incrível ainda, ainda hoje há pessoas que se julgam herdeiras naturais de Sá-Carneiro. Mas, infelizmente, Sá-Carneiro morreu e, com ele, morreu uma parte da política portuguesa. Assim sendo, Sá-Carneiro tem de ser deixado no seu canto da História, imperturbável, longe dos novos interesses político-partidários que vão aparecendo.

 
Os símbolos políticos, aliados ao sonho popular, têm uma força tremenda. Os políticos sabem-no melhor que ninguém. É por isso que a figura de Francisco Sá-Carneiro e o conceito abstracto de “social-democracia” são geralmente usados como grandes argumentos político de muitos políticos de alcova. Então, não será de estranhar que, frases como, “temos de construir um partido à imagem de Sá-Carneiro” ou “a social-democracia tem de ser preservada”, sejam o “prato do dia” para alguns potenciais líderes  do PSD.

Engrimanço 2

Uma fotografia persiste na frágil memória do ofídio. Ele, sem dar por nada, morde tudo o que o rodeia. Sente raiva de tudo. Quer espalhar sangue pelos corpos viscosos das suas vitimas. Quer sentir a putrefacção dos cadáveres que vai coleccionando. A fotografia, essa, permanece lá, na memória, escondida, intocável, à espera do ataque do matuto.

Engrimanço 1

Os ratos transpiram de vergonha. Os piolhos adormecem cansados. Os cães babam-se por tudo e por nada. Estão todos juntos, embora não se conheçam. Contudo, todos eles têm algo em comum: vão numa viagem de autocarro.

domingo, julho 25, 2004

Gula

Na TVI, surge o desejo de cobrir as flashing news: neste caso, um incêndio que deflagrou na Serra da Arrábida. Mas, ao mesmo tempo, vai-se dando início ao jogo entre Benfica e Real Madrid. Numa provação dilemática, os glutões da estação televisiva prestam-se a agradar a toda a gente. Em grande plano, mostram as chamas da Serra e, numa janela um pouco mais pequena, as equipas a entrar em campo no Estádio da Luz.
Não querendo ser repetitivo nem dar uso a lugares-comuns, aproveito, no entanto, para dizer: o português quer tudo e, como tal, não tem nada.

[João Silva]

Medo



Odilon Redon, Fear, 1866

[João Silva]

Reflexo da petulância

Ela compreende admiravelmente tudo isto e, ao pensar que estou plenamente consciente da sua intangibilidade, plenamente consciente da inutilidade dos meus desejos, experimenta, sei-o muito bem, um extraordinário prazer. Se assim não fosse, como podia, inteligente e reservada como é, tratar-me com tanta familiaridade e franqueza? Estou convencido de que até agora me encarou tal como essa antiga imperatriz que se despiu diante do escravo por não o considerar um homem...

Fiódor Dostoiévski, O Jogador
 
[João Silva]

sexta-feira, julho 23, 2004

Carlos Paredes (1925-2004)





Recordando um dos mestres

"Aqueles que estão sempre desconfiados são pessoas que acham que, para lá da grande ilusão das origens, há sempre, em cada caso concreto, uma pequena ilusão especialmente destinada a elas; por exemplo, que quando uma cena de amor se desenrola num palco, a actriz, para além do sorriso hipócrita dirigido ao seu amante, tem ainda um outro, especialmente pérfido, destinado àquele espectador que está sentado nos últimos lugares da geral. Estúpida arrogância!"
 
[Franz Kafka, Parábolas e Fragmentos]

Para lá dos consensos

Para lá dos consensos, parece existir vida. A candidatura de Manuel Alegre a líder do PS, apesar de patética, presupõe que o marasmo que se abatera sobre os partidos políticos em Portugal, especialmente sobre o PS, será invadido por uma lufada de discussão saudável entre três candidatos que não quererão fugir ao debate. Mesmo não gostando de João Soares, de José Sócrates e de Manuel Alegre, enquanto políticos, não posso deixar de referir que a discussão e o debate são sempre preferíveis aos "falsos consensos" que, por vezes, se geram à volta de fotografias vazias de conteúdo. Por isso, que haja muita discussão, mesmo que estes três candidatos não tenham conteúdos argumentativos plausíveis e racionais.

Sem surpresa

Manuel Alegre é oficialmente candidato a secretário-geral do Partido Socialista. Nada mais natural, se se pensar que José Sócrates, a ser eleito, trará a mudança ideológica definitiva a um PS antigamente pautado por ideias de Esquerda. A candidatura de Manuel Alegre é, então, uma tentativa tardia de fazer com que o PS regresse às bases e, por conseguinte, às ideologias antifascistas e românticas. Porém, essas ideias já não têm razões para persistir numa sociedade democrática como é a sociedade portuguesa. Por esse mesmo facto, a candidatura de Manuel Alegre não deixa de ser anedótica.

quinta-feira, julho 22, 2004

Senhor Europa

 Durão Barroso foi, finalmente, eleito Presidente da Comissão Europeia. Nada mais previsível, se se tiver em conta que o antigo primeiro-ministro cedo se esforçou por agradar a gregos e a troianos, cedo tentou ser socialista, comunista e liberal ao mesmo tempo. É triste, mas, para uma pessoa chegar a um cargo daqueles tem de se vender a tudo e todos. 

Natureza morta com megafones

Santana tem alguns defeitos: ambição descontrolada; desejo de perdurar na memória; desejo de ser «aceite» pelos portugueses; ânsia de saber o que pensam os outros; auto-confiança por vezes excessiva. Tudo isto num ponto de vista político. Nada mais. Não se pode criticar o homem. Não se pode exigir uma limpidez de vida a todos os políticos. O que fazem depois do horário de expediente é da responsabilidade pessoal (até certo ponto, obviamente). Incluindo aparecer, ou não, em revistas populares.
O que as pessoas (que lêem as tais revistas) não percebem é isto: Santana dá entrevistas para estar «mais perto» delas. Para que elas o conheçam pelas suas próprias palavras e não pelo boato. É um tipo de populismo que não é novo. É nas revistas que uma grande parte dos portugueses conhece Santana Lopes. Isso é um facto. Mas não pode ser premissa para a crítica.
Pois, no momento em que vos falo, já circula o sms das «manifs». Essas «manifs espontâneas» em que meia dúzia de sindicalistas, verdes ou «jotas» levam um rebanho a passear nas verdes encostas perto do Marquês ou do Rato. «Liderando» dezenas de populares que, estranhamente, tiveram folga dos seus generosos patrões. Populares que conhecem Santana Lopes das revistas. Ou seja, leêm um pouco mais e conhecem-no um pouco mais que os senhores dos megafones.

[João Silva]

quarta-feira, julho 21, 2004

A vergonha

No dia em que se consagrava como Primeiro-Ministro,   Pedro Santana Lopes teria de fazer um simples discurso que elucidasse o bom povo dos seus objectivos para Portugal. Porém, devido ao nervosismo demonstrado, Santana Lopes pareceu um analfabeto atrapalhado, em vez de expressar-se com a sua descontracção habitual. Santana tremeu e tartamudeou, mas não disse nada.
Poderão algumas vozes dizer que é normal e humano que um indivíduo fique nervoso num momento tão importante como aquele. Poderão até dizer que aqueles momentos não revelam nada do político em si. Todavia, é em momentos como aquele que um Primeiro-Ministro consegue unir o país à sua volta, através da sua força, carisma e inteligência. E, Santana, em vez de conseguir reunir o país na sua palma da mão, vai deixando-o cada vez mais fragmentado e desagregado, com medo e vergonha do Primeiro-Ministro que tem.

Traços vincados

Eu não me chamo João Almeida e detestaria que me comparassem ao rapaz. Porém, não posso deixar de apontar o dedo aos jovenzinhos do BE por não usarem desodorizante. É verdade, essa gente cheira mal dos braços que se farta.

terça-feira, julho 20, 2004

Rei frouxo

Apesar de tudo o que tenho dito sobre o novo Primeiro-Ministro,  não posso deixar de referir dois traços que admiro no senhor: a persistência e a coragem. É certo que não o suporto. Mas, verdade seja dita. Pedro Santana Lopes não vira a cara a uma luta, é trabalhador, procura sempre grandes desafios e não se deixa abater pelas derrotas. São bons traços pessoais. Diria, até, que são invejáveis.  Porém, só isso não chega para se fazer um bom político. Essencialmente, um bom político tem que olhar para o futuro distante e pensar que é para melhorar esse futuro que as suas políticas são feitas. Ora, Pedro Santana Lopes não olha para o futuro, olha para o presente. É por isso que não ficará na História.
 

Pedro Santana Lopes e as minhas desesperanças

Nunca gostei de Pedro Santana Lopes. Porém, tenho de avisar os leitores menos atentos que esse "ódio antigo" não se deve ao facto do homem ter fama de mulherengo. Por mim, ele até poderia fazer um filho em cada aldeia que eu nem quereria saber disso. Não. Simplesmente, considero que Pedro Santana Lopes usa, na política, uma arma que não considero muito eficiente: o populismo. O populismo irrita-me bastante e, por conseguinte, Santana Lopes também.
Assim sendo, eu era daquelas pessoas que nunca tiveram grandes esperanças em relação ao futuro do Portugal santanista. Contudo, admito que Santana poderá surpreender-me um dia pela positiva, apesar de considerar uma coisa dessas improvável.

O espelho na mesa

Judite Sousa é daquelas jornalistas que não são minimamente suportáveis. Se é verdade que a senhora já demonstrou o seu profissionalismo ao longo da sua longa carreira, também é verdade que as entrevistas que agora faz não têm nenhuma qualidade. Aquilo que se vê nessas noites de "Grande Entrevista" resume-se a um autêntico marasmo. Nem mais. Mas passemos a um exemplo muito concreto: na semana passada, José Sócrates, como grande entrevistado, passou largas dezenas de minutos a dizer bacoquices, muito por culpa da espantosa ingenuidade de  Judite Sousa. O que se viu nessa entrevista foi uma mulher a babar-se por um homem e um homem a falar de abstracções que não querem dizer rigorosamente nada.

Tomorrow we may be die

"We are nothing. You and me."
 [Jack Kerouac, Tristessa]


segunda-feira, julho 19, 2004

3, 2, 1...

Há algum tempo, em conversa com o Bruno e com o João, dizia que, quem entra nos vastos territórios da União Europeia para se residir e quem nasce nesses mesmos territórios, como eu, leva uma forte vacina europeísta. E, como lhes disse, alguns conseguem escapar-se à casota da vacina. Felizmente, eu não levei a vacina europeísta, nem, muito menos, a vacina anti-americana. Não fugi, mas deve-me ter escapado algo à nascença.
Com o passar dos anos, fui-me adaptando a esta coisa de viver na “União Europeia”. Foi um processo longo e muito doloroso viver como europeu, mas lá consegui sobreviver ao meu triste e fado. Ainda me lembro de ser uma criança frágil e indefesa a fugir do som das colunas aéreas, colunas essas que não se cansavam de repetir sempre as mesmas frases : “Atenção, estás na Europa. Tens de te juntar a nós!”. Como o leitor poderá imaginar, foi muito difícil viver desta maneira. Mas, tudo tem um fim. E o fim desta história está próximo.

Corpus delicti

Nos tempos que correm, não se pode elogiar os Estados Unidos. Pode-se rasgar os mais bravos elogios à Cuba de Fidel Castro e a qualquer outro país da União Europeia, exceptuando a Inglaterra. Mas,  elogiar os Estados Unidos é proibido!
Nós, portugueses, que vivemos numa Europa liderada por “Chiracs”, “Zapateros” e afins, gostamos de nos fazer passar por avestruzeiros. Infelizmente, essa deve ser mesmo a nossa vocação: caçar avestruzes. 
 

domingo, julho 18, 2004

O segurança atenazado

O futebol tem a capacidade de despertar os mais profundos valores humanos no coração dos mais fervorosos adeptos. Isso não é novidade para ninguém.  Mas, a situação que ocorreu ontem, num jogo entre o Benfica e uma equipa amadora, vem demonstrar que, para além de valores humanos, o futebol desperta a irracionalidade e o nervosismo de indivíduos que foram educados para admirarem os Figos, os Pintos da Costa e outros mais. Os seguranças que foram escorraçados a pontapé para fora do relvado pertencem a uma classe que não é, particularmente, admirada pelos adeptos de futebol. Pertencem à classe dos homens que são treinados como cães para  que se mantenha a ordem pública . São muitas vezes comparados à polícia, ou, aos “chulos”, como se diz na gíria popular . Ora, os adeptos não gostam de ordem, nem de segurança. São um pouco anarquistas, no sentido em que eles desejam ser ordenados por eles próprios (e não pelos “bisontes”). Se um adepto entra no campo com uma bandeira, é uma festa e os jogadores têm que aplaudir. Se a segurança intervém, e por acaso falha (admito que pensar não seja o forte desses seres musculosos), os valores humanos têm de nadar para a tona da água, de forma a proteger um jovem frágil e indefeso das garras manhosas dos “outros”, que não pertencem aos “deles”.
No final de contas, a culpa é dos seguranças que não vêem que os adeptos de futebol, mesmo quando entram em cenas de pancadaria entre si, estão a conviver. É como diz o adepto anónimo para a assustadiça jornalista:  “menina, eu estava aqui a falar e a comer uns tremoços com o meu amigo benfiquista. De repente, apareceu o polícia e começou a enxertar-me de porrada. O que é que eu fiz?”

Consensos

Os dois principais partidos políticos portugueses gostam de evitar a luta política. Por outro lado, adoram gerar consensos. Gostam de usar e abusar de conceitos, tais como harmonia, sintonia, estabilidade, entre outros. Veja-se o seguinte exemplo: José Sócrates, candidato a secretário-geral do Partido Socialista, vem à televisão como se já tivesse o partido na mão. Os amigos e conhecidos do senhor vêm à televisão mostrar que todo o PS deseja ser liderado por José Sócrates.
Todavia, os “consensos” nem sempre são maus. Nos governos de Cavaco Silva não foram. Porém, Cavaco tinha duas coisas fundamentais para sustentar um consenso (não apenas partidário, como nacional): a força e as ideias. Até hoje, só Cavaco conseguiu juntar esses dois factores herdados de Salazar e de Marcello Caetano. Apesar disso, todos querem “consensos”. Infelizmente, isso não é possível. Na melhor das hipóteses, conseguem falsos consensos, tais como o consenso que se gerou em volta de Santana Lopes dentro do PSD. Por isso, se os militantes partidários desejam verdadeiros consensos partidários e, porventura, nacionais, é melhor arranjarem líderes com autoridade e, se possível, com ideias.   
  
 

A little sunshine

“Há neste momento um clima de medo nos EUA que é mortal.”,  afirmou Elton John a uma revista. Ao que parece, o cantor está preocupado com a carreira dos artistas americanos. Parece que Bush anda a censurá-los. Ninguém diria uma coisa dessas.   Será que alguém se lembra das declarações de Michael Moore, de Errol Morris ou de Sean Penn, por exemplo,  na entrega dos Óscares? Alguém os  censurou? Não me parece.

sábado, julho 17, 2004

For many years I’ve tried...

Por muitos anos, tentei ser simpático para o mundo. Tentei olhar  para ele com um olhar incauto, próprio do imberbe que era. Mas, lá no fundo,  sabia que o género humano não  me agradava assim tanto. Sabia que o relacionamento com as outras pessoas deixar-me-ia, inevitavelmente, com um aspecto murtuoso. Mesmo assim, continuei a fingir que conseguia integrar-me na multidão. Dancei em ambientes esquisitos, arrotei, gritei, conheci criaturas que não queria conhecer. Enfim, tentei ser humano.
Porém, com o passar do tempo, consegui adaptar-me ao silêncio. Consegui relacionar-me apenas com as pessoas que realmente me interessavam, com as pessoas que conseguiam falar em silêncio, com as pessoas que sabiam que o amor é apenas uma passagem fugaz para os dilacerantes territórios da saudade. 
  
 

Pelos vistos...

Ao que parece, o líder dos The Who, Pete Townshend,  não permitiu que Michael Moore usasse a canção “Won’t Get Fooled Again”, no seu filme Fahrenheit 9/11. Pelos vistos, não devo ser o único a considerar o “anti-bushista” um grande parolo. 
 

Caso clínico

Não gosto muito dos “telejornais portugueses”. Note-se que não é apenas por serem “telejornais portugueses” que não gosto deles. É também por a imagem de marca desses noticiários ser a total ausência de notícias. Mas, com o passar dos anos, fui-me habituando à presença daqueles indivíduos que tentam passar noventa  minutos a representar um papel que não é o deles, os “pivôs”. Dir-se-ia que, jantar sem a presença de Clara de Sousa ou de José Alberto Carvalho, tornou-se quase inconcebível para mim.
Provavelmente, sou masoquista. Provavelmente. Contudo, não consigo abdicar do melhor humor que passa pela televisão generalista. Por conseguinte, tento ficar aqueles noventa minutos de telejornal colado aos três canais, de modo a conseguir apanhar, simultaneamente, as famosas frases de Manuela Moura Guedes na TVI e ouvir os discursos racionalíssimos de Francisco Louçã na SIC.  
 

sexta-feira, julho 16, 2004

Política do coração

Santana Lopes e José Sócrates são a imagem que o povo idealiza para governar o seu país. São homens com muito "glamour" e não se importam de falar de coração aberto ao povo. O povo não poderia  estar mais feliz. Há muito tempo que não tinham um D.Pedro IV. Agora, têm dois.
Porém, coisas como a filosofia política, entre outras coisas, vão deixar de ter alguma importância, já que o povo dará primazia às políticas do coração ( já hoje, a nova comentadora da "Sic", Cláudio Ramos, adiantou o nome de Cinha Jardim para primeira-dama e realçou os cabelos grisalhos de José Sócrates como grande qualidade política).
 Não sei qual será a reacção do novo primeiro-ministro, nem sei se haverá alguma. Se houver, julgo que será uma "reacção de aproveitamento" da sua imagem de galã. E, nesse caso, talvez tenhamos oportunidade de assistir a uma conferência de imprensa (à jogador da bola) em locais, tais como o Lux.

I'm...I'm sorry


Roy Lichtenstein



quinta-feira, julho 15, 2004

A mudança de Durão

Nos últimos dias, alguns eurodeputados, tais como os suspeitos António Costa e Ilda Figueiredo, têm-se demonstrado muito surpreendidos com a capacidade que Durão Barroso demonstrou ter para se metamorfosear num político diferente. Todavia, Durão Barroso já demonstrou há alguns anos que consegue transformar o seu “eu político” noutro “eu político” mais refinado e quase irreconhecível. É como se tivesse de morrer um Durão velho e fatigado para que nascesse um Durão jovem e combativo.

O caso da bandeira escondida

A bandeira portuguesa chegou para ficar colada na janela poeirenta de cada português. Até portugueses que eu muito estimo caíram na tentação de ter duas ou três bandeiras de três tostões em cada divisão da sua casa. Se uns confessam serem muito nacionalistas, outros inventam as mais miríficas desculpas para explicar a situação. A mais recente desculpa que ouvi foi: “ está ali para tapar o vazio provocado pela ausência da televisão”.
Contudo, o fervor nacionalista que parece ter contagiado meio Portugal, só pode ser compreendido se se aceitar de uma vez por todas que o futebol é a grande forma que o povo (e não só) arranjou para conseguir escapar à pequena poça de lama que é este país. De facto, o indivíduo português comum não se congratula por viver num país ingovernável, no qual o próprio primeiro-ministro é o primeiro a dar sinais de fuga. Não sejamos ingénuos.
A bandeira portuguesa, associada ao futebol, representa uma necessidade urgente de sonhar. Uma necessidade que os portugueses sentem de se sentirem bons em alguma coisa. Nem que seja apenas no futebol. Mas, isso não significa que os portugueses tenham orgulho de Portugal. Se significa, já perderam a esperança e limitam-se a rezar pelos golos do paralítico Pauleta.

A família literária 2

Portugal pode ter elevados índices de analfabetismo. Contudo, apesar de Portugal não se dar muito bem com os livros ou com as livrarias, não deixa de ter os grandes nomes na ponta da lingua.
Mas, essa fluência demonstrada parece surgir apenas em casos-limite, em casos em que a vida e a morte andam de mãos dadas. Acredite-se que, em casos normais da vida portuguesa, tais como numa ida a uma repartição das Finanças, ninguém se lembra de Franz Kafka.
Por exemplo, no outro dia, perguntei a um jornaleiro: "sabe dizer-me onde é a Cotovia [poderia ser a FNAC]?". A resposta do homem foi simples e brusca: "quem?".

Drowning Girl


Roy Lichtenstein

quarta-feira, julho 14, 2004

A família literária

É a partir desta altura do ano, ou melhor, é a partir do começo do campeonato incendiário, que os grandes nomes da literatura começam a ser divulgados. E os grandes responsáveis por essa divulgação nem sequer sabem quem foi Kafka ou Orwell. Ora, os grandes responsáveis (humanos) são: o Joaquim Marmeleiro que foi pago para atear fogo numa floresta lucrativa, o chefe dos bombeiros e, principalmente, os autarcas que costumam falar emocionadamente para a televisão. Nenhuma destas figuras lê livros. Nenhuma destas figuras sabe qual é o primeiro nome de Kafka. Contudo, todos sabem dizer que "este incêndio é kafkiano".

terça-feira, julho 13, 2004

A grande família comunista

O PCP nasceu partido de elite. O socialismo operário é, tal como o próprio operário, tardio em Portugal. Como tal, os partidos com «objectivos socialistas» também teriam de ser tardios. Logo, o PCP não nasce dos operários. Quando muito, nasce para eles. Nasce da ideia e obra de alguns intelectuais. No entanto, em Portugal, nasce, ou dá os primeiros passos, na clandestinidade, debaixo de uma ditadura de União Nacional e de Direita, de génese conservadora. E esse é o verdadeiro intento do Partido Comunista Português: lutar contra a ditadura. Derrubar a ditadura estava em causa, mas o objectivo inicial era lutar, lutar para crescer como partido. Só depois, fortalecido, se pensaria em grandes acções.
No entanto, os líderes da ditadura vão caindo. Em 1968, Salazar cai da cadeira e, em 1974, Marcello cai do poder. Há outra data importante: o período de 1975/76, ou seja, o período em que se consuma a crise. A pretensa «traição» de Mário Soares só pôde significar uma coisa para os (ainda moderadamente) velhos comunistas: já ninguém confiava no PCP, excepto os próprios comunistas. Essa é a verdadeira mas triste realidade do PCP. A noção de que só há confiança entre os militantes do partido. Como uma grande família. O PC não confia nos outros, os outros não confiam no PC. E assim se foram fechando e envelhecendo, cada vez mais, nos últimos 30 anos.

No PC, as pessoas conhecem-se. Comparecem às «iniciativas» em família, trazem bebés ao colo, perguntam pela saúde uns dos outros. Nas palavras tristes de uma velha militante, «se o PC desaparecesse, eles ficavam espalhados por aí». Cunhal tenta com desespero que eles não se «espalhem» e eles assistem desesperados a uma luta incompreensível, na eminência de uma catástrofe de que não se julgam merecedores. Poucos ou muitos, os que sobrarem depois de 6 de Outubro, não abandonarão o «Álvaro», nem ele os abandonará a eles. Eles, no fundo, não são comunistas. São «do partido» e, como se sabe, «no partido» os camaradas só se despedem «até amanhã».

Vasco Pulido Valente, Retratos e Auto-retratos.

[João Silva]

segunda-feira, julho 12, 2004

Magic Garden


Paul Klee

Howard’s Conservative party has made astonishing progress in a very short time

Just before the 1966 World Cup the England manager Sir Alf Ramsey remarked that his talented midfielder Martin Peters was ‘ten years ahead of his time’. Peters himself was displeased by the observation, but Ramsey was in reality being flattering. He meant that his player was not truly at ease among the clodhopping defenders and midfield ‘hard men’ who set the tone in the 1960s. Peters’s fluid, complex, visionary style anticipated an era that had not yet arrived.

Very much the same can be said of Oliver Letwin, the shadow chancellor. To the more primitive type of Tory back-bencher, Letwin is the object of contempt. Letwin refuses to use soundbites, the mind-numbing currency of contemporary debate, though attentive readers of his thoughtful and well-written speeches will find witticisms and the occasional epigram. The stupider type of MP, wedded to the conventions of the very recent past, takes this as an affront. They are angered too by Letwin’s outrageous refusal to resort to ignorant abuse and his consistent attribution of the highest motives even to his political opponents. Worst of all is Letwin’s use of long words and serious argument, and utter refusal to descend into cheap populism.

Instead of attending to the grim rituals which pass for modern political activity, Letwin has taken a step back from the contemporary political scene. Though shadow chancellor for barely six months, he has already created a coherent, well-researched and fundamentally Tory critique of Gordon Brown’s management of national finances.

Because of the way that New Labour is constructed, above all Tony Blair’s curious decision to allow domestic policy to be controlled from the Treasury, Letwin has been obliged to undertake a wider analysis of New Labour in government than perhaps he originally envisaged. The results of Letwin’s work have started to emerge over the past few weeks, and they can only be described as dazzling. It is hard to overstate the importance of what he has done: he has at last provided the tools for the long-awaited conservative intellectual fightback.

Letwin’s arguments are partly set out in his speech on ‘Gordon Brown’s Big Government’ published on Tuesday. He demonstrates, with felicitous use of examples drawn mainly from government reports, how Gordon Brown’s obsession with central control has doomed New Labour’s well-intentioned attempts to reform public services. The Chancellor’s insistence on micro-managing every area of public life through Whitehall-imposed targets, endless bothersome initiatives, grants-in-aid, public service agreements, etc., is squeezing the life out of our hospitals and schools.

Less and less of the investment intended for the national public services actually reaches its destination. Instead it is captured halfway by the bureaucrats and regulators setting and monitoring the targets, interpreting the data and managing the schemes. Letwin demonstrates, for example, that of 88,000 new posts created in education by New Labour, just 14,000 are teachers and teachers’ assistants. Meanwhile the task of the teachers themselves is made far more wearisome and difficult by the New Labour army of bureaucrats. Letwin claims that the new regulations just issued by the Qualifications and Curriculum Authority mean that a teacher in charge of 30 five-year-olds ‘is expected to write a report on their pupils’ aptitudes and achievements which exceeds the length of Paradise Lost’.

At the heart of Letwin’s argument is the proposition that Gordon Brown’s Big Government has created an historic opportunity for the Conservatives. Ten years ago New Labour in opposition put forward the strikingly plausible proposition that it was at once the party of social justice and economic efficiency. Today Oliver Letwin is steadily constructing a Tory party that can realistically claim to have reconciled the two apparently contradictory objectives of a smaller state, as well as improved public services. Hence the proposals, unveiled by shadow spokesmen Andrew Lansley and Tim Collins over the past two weeks, to give massive new freedoms to hospitals and schools, liberating them from the stranglehold of the bureaucrats.

Michael Howard’s Conservative party has made astonishing progress in a very short space of time. It has already constructed a coherent and serious Tory vision of how a modern economy should be run, while showing that New Labour over the last seven years has adopted the wrong model for health and education, with wretched consequences for pupils and patients. There is no evidence at all that this vision has communicated itself to the electorate at large — last week’s Populus poll in the Times, showing the Conservative party languishing at 29 per cent, four points behind the government, was especially discouraging. But Howard has achieved something that is almost as important, and much more interesting and attractive. For the first time in 20 years the Conservative party is the dominant source of ideas on the national stage.

Look at the recent decisions by the Labour government — the decision to perform a U-turn on the constitutional referendum, the move towards ‘choice’ in public services, the Gershon report on government waste. All of these are simple mimicry of policies already worked out and articulated by the Conservative party. No opposition in living memory has had such success in setting the agenda for government at Westminster.

There remain those who insist that Tony Blair is simply being very clever indeed in appropriating the Conservative agenda and opportunistically passing it off as his own. Nor can it be denied that shooting the Tory fox on the referendum caused Michael Howard real problems during last month’s European elections, opening the way for the Ukip surge. But to accept these arguments is to enter too readily into the New Labour mindset, which has always been dominated by power worship, short-term strategic considerations, and an obsession with newspaper headlines.

The Tory strategy under Michael Howard is much more profound. It is not simply that he has created a new, distinctly Tory and intellectually rigorous set of policies. He has also drawn Tony Blair into perilous territory. When New Labour talk of choice, they sound uneasy, defensive and half-hearted.

And there is one final huge gain. The further Tony Blair pushes New Labour towards choice, the further he moves away from his political base. This weekend, as Gordon Brown prepares to unveil his spending plans, the yawning chasm between the Prime Minister and his party was looking menacing yet again. Though the polls do not show it, things have rarely looked so good for Michael Howard’s Conservatives.


[Peter Oborne,"The Spectator"]

domingo, julho 11, 2004

“Activistas gays”

Quando encontro, em algum jornal, a famosa expressão “activistas gays”, não resisto a uma pequena gargalhada. O que me faz rir não é propriamente a existência de homossexuais, já que cada indivíduo tem o direito de fazer as suas escolhas sexuais e afectivas sem ser censurado por quem quer que seja.
Todavia, a capacidade que a comunidade homossexual tem de se expor ao ridículo quando se organiza publicamente, diverte-me bastante.
Por exemplo, no DN de hoje, vem uma pequena notícia , na qual se refere que “Activistas gays ameaçam “tirar do armário” os políticos de Washington que se opuserem ao casamento de pessoas do mesmo sexo. Um grupo vai pagar anúncios de jornal que alertam os deputados e senadores a defender sua causa ou arriscar ver sua identidade sexual exposta na imprensa.
Se não estivesse habituado às absurdidades defendidas pela “comunidade gay” que, à semelhança dos seus camaradas activistas de extrema-esquerda, defende coisas como o pacifismo e o igualitarismo, diria que o mundo está perto de assistir a mais uma “caça às bruxas”.

sábado, julho 10, 2004

O inevitável tabefe

"A partir de agora, os pais ingleses vão ter de pensar duas vezes antes de levantarem a mão para bater nos filhos. O Parlamento britânico aprovou na segunda-feira passada, dia 5 de Julho, uma lei que protege as crianças de castigos físicos que provoquem danos morais e físicos de gravidade. A proposta foi apresentada por um deputado liberal-democrata e vai substituir a legislação anterior, que resistiu a dois séculos de vida: a antiga lei remonta ao século XIX e permitia aos pais utilizarem a violência física sobre os filhos desde que não ultrapassassem os limites da “razoabilidade”.
O Governo apreciou ainda uma proposta, bem mais radical, que previa a proibição absoluta dos castigos corporais. Afinal, vingou a tese de que castigar pode ter de implicar um açoite mas pouco mais do que isso
”.

[“Sábado”]

Gostaria de vir aqui defender o “tabefe”, defendendo e plagiando os argumentos usados por Nelson Rodrigues. Porém, julgo que não vale a pena. Felizmente, o tabefe que os pais usam para refinar a educação dos miúdos ainda não está em perigo de extinção. A lei aprovada em Inglaterra não desrespeita em nada o direito que os pais têm de educarem os filhos como pretendem, nem sequer os impede de recorrer à palma da mão, de modo a darem uma pequena achega à educação dos pequenos diabos que têm em casa
Contrariamente ao que se possa pensar, esta lei não vai alterar o modo de vida das famílias normais, das famílias que não recorrem à brutalidade nem à violência para educar os seus filhos. Apenas vai mudar a vida de quem descarrega as suas frustrações diárias para cima dos filhos, através de pancada a sério. O tabefe, esse, não entra nestas contas.

Birth Machine


H.R. Giger

A demissão de Ferro Rodrigues

Depois de dois anos de uma frágil e conturbada liderança do Partido Socialista, Ferro Rodrigues sabia que o dia de ontem era importantíssimo para a sua imposição no partido e até no país.
Todavia, Sampaio não foi na maré dos cartões amarelos e vermelhos e, consequentemente, ao não convocar eleições antecipadas, impôs-lhe uma pesada derrota. Ferro Rodrigues, que nunca se conseguiu impor no seio do Partido Socialista, dando sempre uma imagem do líder contestado e revelando sempre alguma incapacidade de levar o seu partido à vitória numas eleições legislativas, viu-se obrigado a apresentar a sua demissão.
A sua queda era inevitável e a sua substituição necessária. Agora é a vez de António Vitorino.

Rectificação

Ontem deixei aqui uma visão muito pessoal sobre Sampaio. Mas, com a decisão por ele tomada, que era a mais previsível de todas, tudo aquilo que disse deixa de ter efeito, já que Sampaio demonstrou ter a sensatez suficiente para se separar das querelas partidárias e demonstrou ainda que o seu repudio por Santana Lopes não é suficiente para o afastar do poder.

sexta-feira, julho 09, 2004

Sampaio

Jorge Sampaio sempre tentou ser pouco arbitrário em relação às decisões políticas tomadas pelo governo de Durão Barroso. Porém, com o aparecimento do "Processo Casa Pia", Sampaio não conseguiu esconder as suas amizades e a sua família política, prejudicando a sua imagem de presidente isento. Prova disso são os encontros regulares entre ele e Souto Moura. Mais recentemente, com a crise política inventada pelos Socialistas, Sampaio nunca escondeu a sua preocupação com uma provável ascensão de Santana Lopes ao poder. Diga-se que, o actual Presidente da República já se tinha mostrado preocupado com a hipotética candidatura de Santana a Belém.
Contudo,em tempos remotos, tempos esses em que se vivia uma verdadeira crise política, social e económica, Sampaio não hesitou em pedir ao Partido Socialista para não convocar eleições antecipadas.
Por esse mesmo facto, não será natural pensar-se que o candidato a presidente da República é, cada vez mais, eleito pela sua personalidade, pelo seu carisma, pela sua isenção e, cada vez menos, pelas suas raízes ideológicas e partidárias.
Com efeito,neste momento Sampaio tem o coração dividido entre o seu partido desejoso de regressar ao poder e um homem que não suporta. Desse modo, e comprovado o facciosismo de Sampaio, o mais natural é que daqui a uns meses estejamos todos a votar.

Ferro Rodrigues e o futebol

O futebol já deixou de fazer parte da mentalidade de todos os portugueses. Pelo menos, a parte da festa rija, isto é, a parte do Euro. Contudo, isso não faz com que alguns políticos, mais preocupados com a forma de pensar popular, deixem de usar a linguagem futebolística nas suas intervenções, cada vez mais, televisivas.
Dessa forma, é sem surpresa que Ferro Rodrigues consegue demonstrar para as televisões todo o seu conhecimento sobre o desporto em causa. É maravilhoso ouvi-lo falar sobre a governação de Durão Barroso e sobre a possível governação de Santana Lopes. É mais ou menos isto:"o governo tem-se portado mal. Está na hora dos portugueses falarem. Os cartões amarelos já não chegam. Agora temos de mostrar-lhes um vermelho e mostrar que o povo ainda tem algo a dizer." Realmente, a fluência de Ferro Rodrigues é impressionante!

Diga lá outra vez!

É uma coisa rara e excepcional, mas a verdade é que gostei do artigo que Eduardo Prado Coelho escreveu no "Público" de ontem. Aqui fica um excerto do texto do inquisidor-geral:" (...)Quando vimos na televisão Santana Lopes em pose de Estado, com o cabelo mais cortado e uma indumentária adequada à posição das altas funções que pretende desempenhar, era difícil não sentirmos que estava ali toda uma concepção da política: o que importa é a imagem. Confesso que preferia ver Santana Lopes um pouco mais desportivo e esgrouviado, mantendo ele próprio a continuidade com a sua lenda de habitante da vida mundana. As transformações verificadas mostram que Santana Lopes continua a viver de aparências(...)".

quinta-feira, julho 08, 2004

Bons sinais

Na edição do "Público" de ontem, pode-se encontrar uma entrevista feita a Richard Holbrooke, possível Secretário de Estado de John Kerry. Nessa entrevista, Holbrooke revela tudo o que as pessoas de bom senso já sabiam. Ou seja, que , com a possível eleição de Kerry, o Iraque continuará a ser uma das prioridades dos Estados Unidos ("Seria uma catástrofe para o Iraque, para a região e para o mundo - incluindo a Europa e Portugal - se as coisas corressem mal e o Iraque se transformasse num centro do terrorismo. Ele [Kerry]não tenciona retirar-se. "); que o apoio a Israel não se põe em causa e que "não há acordo possível com Yasser Arafat".

Pequenos grandes homens

Tal como o Paulo, já há alguns anos que espero um «salto de fé» de Marques Mendes. Espero, sobretudo, que demonstre a sabedoria de anos e anos na sombra de políticos de renome e a experiência de uma sapiência demonstrada em gabinete e não nas praças e feiras. No entanto, à semelhança de um barco sem comandante, quando «cai» um líder o escolhido nem sempre é o oficial competente, mas o apaziguador das massas, aquele de quem todos gostam porque faz o que sabe, em vez de saber o que faz.

O Paulo refere, e bem, o Contra-Informação. Esse fenómeno contagia uma epidemia populista sem igual. De figuras públicas a divindades de chuteiras, todos são caricaturados, gozados e exagerados. Na mais pura aceitação. A figura pública deixa o povo enxovalhar porque não é popular «retaliar» ou queixar. Ou seja, gostam. E, se não gostam, fazem acreditar que gostam. Marques Mendes é um deles. Gosta da sua caricatura. Porque, simplesmente, nada pode contra ela. Contra o poder da televisão. Tal como Marcelo Rebelo de Sousa parece mais do que é através do écrã de televisão, Marques Mendes parece muito menos quando representado pela minúscula marionete do Contra-Informação. Sobretudo, deixou-se derrotar pela imagem que o povo tem dele.

Manuela Ferreira Leite e Marques Mendes, em vez de desistirem do governo, deveriam ficar. Como cidadão em exercício, sinto-me representado pelo que resta de bom-senso e honestidade no topo da pirâmide política, nunca por Santana Lopes. Não tenho nada contra ele, a não ser o futuro do país. Porque as excepções sempre fizeram História na Europa, pela negativa...

[João Silva]

quarta-feira, julho 07, 2004

O ocaso de Marques Mendes

Nunca escondi a minha admiração por Marques Mendes.De facto, sempre o considerei um político de excepção, que deveria assumir um papel relevante na política nacional. Porém, o homem nunca conseguiu assumir esse papel; limitou-se a construir uma carreira de subordinação a outros políticos que, por vezes, são portadores de uma qualidade duvidosa.
Para o eterno ocaso de Marques Mendes, muito contribuíu aquele anão, com voz de criança, que a "Contra-Informação" criou há alguns anos atrás. Esse anão é sempre o mesmo mentecapto, que farta-se de pular para chegar à cintura dos seus colegas e que diz, de cinco em cinco segundos, "ganda nóia!".
É triste ver um político enorme como Marques Mendes conseguir conviver alegremente com o seu suposto clone, ao mesmo tempo que é remetido para o terceiro ou quarto plano de um partido e de um eleitorado, que o considera baixote e com voz de menino.

Vai um tremoço?

Olho distraidamente para a manchete do "Público" e fico absorto ao ver um indivíduo empunhar corajosamente um cartaz da CGTP que dizia :"Governo não eleito coisa sem jeito". É maravilhoso. Já estou a imaginar Carvalho da Silva a chegar a casa e exclamar para a sua esposa :" Bifanas outra vez?Epá, não tem jeito nenhum!"

terça-feira, julho 06, 2004

Eye


Escher, M.C.

Incompreensão

Portugal passou um mês a festejar a epopeia da Selecção Portuguesa, nada mais natural num país completamente alheado de si próprio. Contudo, não deixa de causar-me incompreensão o facto de só se pensar em futebol. Como é possível que ninguém tenha medo de ser governado por Santana Lopes ou por Ferro Rodrigues? Como é possível que ninguém tenha receio de que as políticas de contenção de Manuela Ferreira Leite tenham sido feitas em vão? Vivemos num país extraordinário, no qual o povo tem de ser espicaçado pelos padeiros do Louçã para saber que algo está mal.

O povo em armas

O povo não sabe o que é que esta palavra tão complexa chamada "política" representa para a sua vida. Mas,apesar de a política não fazer parte do quotidiano da vida do povo, ele não deixa de sonhar com o poder, com a vitória do suor e das lágrimas sobre o "elitismo e arrogância" dos políticos. Ora, o Futebol para o povo não é apenas um meio de evasão e de divertimento, é também uma forma de se fazer ouvir para o exterior, uma forma de se elevar aos céus. É por isso que não são surpreendentes os cartazes, divertidos mas maliciosos, que elevam um seleccionador gaúcho a primeiro-ministro. É também por isso que não são muitos os que se surpreendem com facto de Durão Barroso falar para as televisões nos locais destinados aos jogadores e à Comunicação Social.

segunda-feira, julho 05, 2004

Cerveja no gelo

Ontem, nas ruas, os portugueses festejavam. Portugal perdeu, mas festejou-se. «Por Portugal» e «porque jogámos bem». Concordo, em parte, com o segundo argumento. Mas, «por Portugal», deveríamos pedir muito mais. Títulos em vez de «derrotas com um sorriso». De qualquer forma, jogou-se melhor do que o esperado, e isso tranquiliza as hostes, mesmo quando não há primeiro-ministro. É razão para festejar. Afinal, o que se faria com tanta cerveja no gelo, se não se festejasse a derrota?

[João Silva]

A ditadura cunhalista

Cunhal é, para o exército comunista português, um símbolo. Mais, é uma deidade viva, caminhando entre eles. Salazar fora um ditador. Cunhal, um pouco mais novo, queria sê-lo também. Para tal, enquanto não subia ao poder ou se abriam perspectivas de isso acontecer, ía aplicando o sistema ditatorial no seu próprio partido (sim, o partido, sensivelmente na década de 40, já era dele). O historiador Rui Ramos fala, mesmo, da existência de «duas ditaduras» em Portugal durante o Estado Novo: a de Salazar de um lado, a de Cunhal do outro. Quem viveu naquela altura concorda com isto: para derrubar uma ditadura, tinha de se pertencer a outra. E assim cresceu o PCP.

[João Silva]

A impossibilidade de uma estabilidade

A partir do momento em que Durão Barroso aceitou o convite para presidir à Comissão Europeia, o PSD deixou de ter condições para dar continuidade a uma série de políticas que tinham em vista a estabilidade social e económica do país. Muito contribuíu para isso a ascensão à liderança do partido por parte de Santana Lopes, já que muitos dos nomes que garantiam o frágil sucesso governativo de Durão, tais como Manuela Ferreira Leite, Marques Mendes e Teresa Gouveia, abandonaram o Governo, conscientes de que o novo líder partidário é um populista que cedo quererá dar pão ao povo através do seu hábito incurável de fazer obra pública e de abrir cordões à bolsa.Assim sendo, a provável ascensão de Santana Lopes a primeiro-ministro terá de ser vista como uma necessidade cega de continuação a todo o custo de um partido de falsos consensos no poder.

domingo, julho 04, 2004

Recomenda-se

Descobri recentemente, através do Desesperada Esperança , um blog chamado Ene Problemas. Trata-se de uma pequena pérola dentro de uma tão vasta blogosfera. Vale a pena visitá-lo.

Cartoon


[The Spectator]

O final

Hoje é o dia de todas as emoções, o dia em que os portugueses querem ficar para a História do futebol. É também o dia em que a amizade e a rivalidade vão voltar a fazer sentido. A partir de hoje, o ódio para com determinado vizinho vai regressar; a amizade vai reduzir-se aos amigos de longa data.
A união que o povo conseguiu demonstrar a todo o país foi bonita de se ver. Porém, foi ilusória. Nem poderia ser diferente, já que as pessoas têm os seus próprios interesses, os seus próprios problemas, isto é, as suas próprias vidas.
Enfim, a vida regressará à normalidade. Portugal será novamente um país triste e deprimente e o povo não terá mais nada com que se entreter.

sábado, julho 03, 2004

Marlon Brando (1924-2004)

Recado

ouve-me
que o dia te seja limpo e
a cada esquina de luz possas recolher
alimento suficiente para a tua morte

vai até onde ninguém te possa falar
ou reconhecer – vai por essa porta
de água tão vasta quanto a noite

deixa a árvore das cassiopeias cobrir-te
e as loucas aveias que o ácido enferrujou
erguerem-se na vertigem do voo – deixa
que o outono traga os pássaros e as abelhas
para pernoitarem na doçura
do teu breve coração – ouve-me

que o dia te seja limpo
e para lá da pele constrói o arco de sal
a morada eterna – o mar por onde fugirá
o etéreo visitante desta noite

não esqueças o navio carregado de lumes
de desejos em poeira – não esqueças o ouro
o marfim – os sessenta comprimidos letais
ao pequeno almoço


[Al Berto]

sexta-feira, julho 02, 2004

Girinos

Como já disse uma vez, a unanimidade assusta-me. A obscuridade dessa palavra, e desse sentimento, assusta-me profundamente. Sobretudo quando o país, muito mais (importante) do que o PSD, está em crise. O partido, saudavelmente, divide-se quanto à escolha de um sucessor «natural» para o irrequieto ex-Primeiro Ministro Durão Barroso. Depois de muita discussão, muito debate, muita faísca, eis que surge a verdade: escolha de Santana Lopes com 98%. Consenso. Unanimidade.
Santana é um girino do partido, e isso, juntamente com a triste, sublinhe-se triste, unanimidade dos militantes do Congresso, é um facto terrivelmente consumado. O PSD/PPD foi, em tempos, um partido de reacção, de tendência conservadora, ao intelectualismo romântico e burguês do PS. Era, sobretudo, um partido controverso, porque tinha ideias quando as ideias se queriam «de esquerda». Nos anos 60 e 70 sobreviveram. Hoje, tornou-se um partido de jovens e adultos sectários, dentro do qual sobrevivem meia dúzia de figuras fortes mas já «gastas». Gastas pelo aparelho (por atrito, note-se) e pela falta de estrutura do próprio partido.
Se Santana foi eleito por consenso apenas para não abalar o partido e para não passar imagem de «divisão», então o PSD é, hoje, aquilo que outros partidos são há muito: um partido de oportunidades, dentro do qual se «nasce», cresce e some-se para Bruxelas. Em suma, uma filial desidratada do PPE.

[João Silva]

Jogo sujo

João Almeida, o líder da Juventude Popular representa o expoente máximo da ausência de valores éticos e morais na política. Ao querer afirmar-se dentro da elite partidária do partido que representa na Assembleia da República, o rapazola apenas demonstra que as juventudes partidárias são uma criação de um aparelho apodrecido que se limita a criar indivíduos graxistas, que não têm nada de novo para oferecer à política.

Paris Street Scene


Richard Estes

quinta-feira, julho 01, 2004

The anti-Americans were wrong

(...)Coalition forces have made many errors in the post-war running of Iraq, but the handover of sovereignty was not one of them. It was a clever strategy to complete the task in private two days ahead of its advertised date. But there is one reason above all why this week failed to see unrest on the scale that opponents of the war expected, and perhaps secretly hoped for: insurgents have very little to insurge about. The argument that nothing has changed as a result of last Monday’s events and that the Americans will continue to rule the country through a hand-picked figurehead is bunkum. Of course Iyad Allawi is a Coalition appointee rather than a leader that the Iraqis would necessarily choose, but his mandate extends for a mere seven months until next January’s scheduled elections. The only alternative to a period of appointee government would have been for the Americans themselves to have organised the elections: which would have given conspiracy theorists a field day, with or without the complication of hanging chads.

It is true that 160,000 Coalition soldiers will remain in Iraq, probably for at least two years, and that in that time Iraqis will continue to suffer the indignity of facing street patrols by foreign forces. But what was the alternative? Had the last Coalition soldier left Iraq this week on the end of a rope dangling from a US helicopter, the Americans would have been accused of cutting and running. While the interim Iraqi government will have limited control over the Coalition forces, what matters is that it can ultimately ask them to leave. In practice, it is unlikely to do so for the simple reason that no country emerging from years of tyranny could ask for a better guarantee against anarchy than the presence of American and British troops. Germany still has foreign soldiers on its soil 60 years after the defeat of the Nazis, but who calls that an occupied country?

Of course, the sense of optimism created by the return of sovereignty to Iraq should not be exaggerated. Iraq remains an extremely dangerous country, where the challenges of everyday life are incomprehensible to those whose sense of disorder is limited to the hazards of London street crime. George W. Bush made one mistake this week: the words ‘Let Freedom Reign!’ which he scribbled on a piece of paper passed to him by Condoleezza Rice at the Nato summit in Istanbul. The American President must know that in the short term, freedom for Iraqi citizens must be curtailed. A more accurate note would have been ‘Let martial law prevail’, because that is one of the likely first measures to be taken by the interim government. It would be counter-productive to organise elections before national security and law and order can be established. For the moment, Iraqis face a life of curfews, but it will be a price they will have to pay for later freedom and prosperity.

As we argued in these pages three weeks ago, the first signs of that more prosperous and secure future are already in evidence, if only people are prepared to look. A million Iraqi refugees driven from the country during Saddam’s rule have returned from exile. Attacks on Iraqi police are diminishing. And, the surest sign of confidence in the country’s future, the currency is appreciating.

Interestingly, most of those who have been reported expressing their scepticism about this week’s events have been professors at universities on the wilder shores of the Islamic world. To quote one of them, Chibli Mallat, a professor of international law in Lebanon, the handover of sovereignty is a ‘gimmick’. He demands that American soldiers begin to pull out of the country immediately. When the Guardian’s reporters set forth on the streets of Baghdad, on the other hand, they managed to find just one Iraqi who held the view that Iyad Allawi and his regime are really just a smokescreen for continued American occupation.
There is little doubt that American forces are deeply unpopular in Iraq, and that some of the gratitude for freeing the country from Saddam has been squandered in heavy-handed policing. But as from last Monday, Coalition forces are guests in Iraq. That is what has fundamentally changed, and anti-Americans should not seek to detract from this momentous point of a country’s rebirth.
The Spectator

A proximidade do fim

Santana Lopes acaba de ser nomeado líder do PSD. Apesar disso não constituir surpresa para ninguém, não posso deixar de exprimir o meu descontentamento.

A lágrima de crocodilo

"A anomia do PSD na actual crise de liderança é mais um sinal do estado a que chegaram os partidos de poder em Portugal."
[José Manuel Fernandes, "Público"]

A crise partidária que se vive em Portugal, especialmente no PSD, evidencia alguns sinais de uma mudança na forma de fazer política. Infelizmente, tudo aquilo que aqueles "filmes hollywoodescos" mostram sobre a fuga da política para os campos do espectáculo e da mentira está a tornar-se realidade em Portugal.
Um sistema que começou por ser construído pelo mérito e pelo esforço indivídual de pessoas convictas dos seus ideais é agora constituído por grupos parasitários, por eternos populistas que apenas querem atingir o "estrelato" sem olhar a meios para atingir os seus fins.
A possibilidade proporcionada pela televisão, jornais e rádios de se fazer política em directo, originou o aparecimento dessa espécie política perfumada, sorridente e mentirosa.Exemplo disso são personalidades como Pedro Santana Lopes e Luís Filipe Menezes, dois políticos capazes de chorar e de fazer chorar os seus ouvintes, dois políticos que prometem o pão através do circo.


Indestructible Object


Man Ray

Morram de vergonha!

As vitória da Selecção Nacional de futebol não deixam ninguém indiferente. Todos os portugueses têm razões para festejar e, também, para ver o seu ego aumentar de dia para dia.
Contudo, gerou-se uma estrondosa euforia em volta da Selecção, o que impede a grande maioria dos portugueses de pensar. Sendo eu um indivíduo incapaz de conviver com este género de movimento popular no qual Portugal se transformou, não poderia deixar de referir que dá-me vontade de me aproximar de todos aqueles piolhos anónimos que dão saltos dentro de uma fonte e gritar-lhes: "Morram de vergonha!"

Ernesto "Che" Guevara (1929-1967) e a guerrilha

A sua obra, ou o seu Guerilla Warfare(1960), era um guia prático para qualquer jovem revolucionário que aspirasse chegar ao estatuto de mito. Nesse guia, evidenciam-se quatro teses principais:
-As forças populares conseguiriam ganhar uma guerra contra um exército convencional através de processos que desafiavam a legalidade;
-Não seria necessário esperar por todas as condições de vitória objectivas para lançar a guerrilha, já que o centro da revolução poderia facilmente criá-las;
-O campo seria o local da luta armada e a cidade o local para a actividade clandestina;
-A revolução teria de ser internacional.

Ernesto "Che" Guevara (1929-1967) no mundo fementido

"Che" Guevara, argentino, marxista e revolucionário, participou na Revolução Cubana de 1959 e serviu esse mesmo regime revolucionário como ministro governamental. Com a intenção de apoiar outras revoluções no Terceiro Mundo, deixou Cuba em 1965.Já em 1967, Guevara lança uma malograda insurreição na Bolívia em 1967, tendo sido capturado e, consequentemente, executado.

Nota sobre a Tirania

No pensamento clássico, a tirania era uma forma degenerada da monarquia, na qual um indivíduo governa em seu próprio interesse. A ausência da chamada "rule of law" é uma das suas características mais salientes. Essa ausência sugere que a governação é feita segundo os caprichos do tirano, que os cidadãos são tratados arbitrariamente e que o uso do terror é sistemático.